Além dos benefícios ambientais, mobilização em prol do replantio poderá gerar, segundo estimativa da Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum), de 300 mil a um milhão de empregos até 2030

Porto Velho, Rondônia -
 Em reação ao avanço do desmatamento no Cerrado, intensifica-se também a mobilização para recuperar áreas degradadas do bioma no Centro-Oeste do Brasil. Uma das iniciativas mais ambiciosas nesse sentido parte da Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum). Fundada em 2020, a organização está coordenando esforços para recuperar diferentes terrenos com o objetivo de restaurar até dois milhões de hectares de vegetação local.

A atividade tem a participação de 150 instituições, entre governos, organizações da sociedade civil e do setor privado. Além dos benefícios ambientais, a mobilização em prol do replantio poderá gerar, segundo estimativa da Araticum, de 300 mil a um milhão de empregos até 2030.

O trabalho conta com a inclusão ativa de comunidades locais e grupos tradicionais, por meio de técnicas que possibilitem geração de renda, como a coleta de sementes. A articulação organiza-se em uma coordenação, formada por oito membros de organizações como Agroícone,ICMBio e WWF-Brasil, e em quatro grupos de trabalho. São eles: Inteligência Territorial, Oportunidades e Políticas Públicas, Conhecimento e Fortalecimento.

Segundo Cézar Borges, coordenador do grupo de Inteligência Territorial da Araticum, o trabalho de restauração também auxilia o combate ao desmatamento.

— A taxa de riqueza natural que o Cerrado possui é muito alta e o bioma tem uma grande importância hídrica para o país, por abastecer grandes cidades do Centro-Oeste e Norte. A sua restauração é, portanto, importante para o meio ambiente e para a geração de trabalho para as comunidades locais — diz o pesquisador.

O levantamento de áreas degradadas que podem ser recuperadas no Cerrado está sendo realizado pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás. Sabe-se que há um passivo ambiental de quatro milhões de hectares, espalhados em reservas legais e áreas de proteção permanente.

As informações são, então, compiladas e integradas ao Observatório da Restauração e Reflorestamento (ORR), uma plataforma nacional da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. A plataforma tem o objetivo de agregar os dados referentes a projetos de reflorestamento no país.

— Com essas informações, podemos direcionar recursos e esforços para fortalecer ações ou incrementar áreas que precisam de atenção — explica Tainah Godoy, secretária executiva do ORR.

Godoy avalia que a restauração florestal é fundamental para que o Brasil possa cumprir metas climáticas nacionais e internacionais. A especialista aponta que iniciativas de retomada da flora devem ser desenvolvidas não apenas na Amazônia, onde a maioria dos esforços governamentais estão concentrados, se expandindo para todos os biomas do país.


Fonte: O GLOBO