Cenários afunilam em torno de nomes de confiança devido à possibilidade de deixarem mandatos no meio para concorrer aos governos estaduais

Porto Velho, Rondônia - Encerrado o prazo para secretários interessados em disputar cargos majoritários deixarem os cargos, prefeitos que têm planos eleitorais maiores em 2026 afunilaram os nomes cotados para vice das chapas este ano. O cálculo é simples: com a possibilidade de largarem o eventual novo mandato no meio para disputar governos estaduais ou o Senado daqui a dois anos, eles querem deixar as prefeituras nas mãos de aliados de extrema confiança.

A Justiça Eleitoral exige a desincompatibilização dos cargos até quatro meses antes do dia das eleições, marcadas para 6 de outubro. Isso motivou diversas exonerações ao longo desta semana em importantes capitais brasileiras.

Casos parecidos são vistos no Rio, Recife, Maceió e Manaus, por exemplo. Quase sempre, aliados de fora do núcleo duro dos prefeitos tentam indicar os vices e pressionam os chefes de Executivos neste momento de definição de alianças, mas enfrentam a intransigência deles no desejo de colocar alguém que seja quase uma extensão de si.

O cenário mais emblemático é o do Rio, onde Eduardo Paes (PSD) tem predileção pelo deputado federal Pedro Paulo, do mesmo partido e seu braço direito na política. A fim de não deixar apenas uma opção aberta, contudo, ele exonerou da prefeitura nesta semana outros dois quadros do partido — Eduardo Cavaliere, da Casa Civil, e Guilherme Schleder, de Esportes —, além do petista Adilson Pires, de Assistência Social.

Junto com o presidente da Câmara Municipal, Carlo Caiado (PSD), e com o petista André Ceciliano, são esses os nomes de momento para assumir o posto na chapa. Mesmo assim, Pedro Paulo segue na dianteira da corrida e, caso não seja ele, a tendência é que o escolhido continue sendo das fileiras do PSD, apesar da pressão dos petistas.

Disputa aberta em Recife

Quem também filtrou secretários cotados para assumir a vice e, eventualmente, “ganhar” a prefeitura em 2026 foi o recifense João Campos (PSB), herdeiro das famílias Campos e Arraes em Pernambuco e possível concorrente à cadeira hoje de Raquel Lyra (PSDB) na próxima eleição estadual. Lá, mais do que Paes, o prefeito já não dá quase nenhuma esperança ao PT na reivindicação da vice.

No limite do prazo para exonerar os secretários, Campos dispensou da prefeitura o chefe de gabinete, Victor Marques (PCdoB), e a secretária de Infraestrutura, Marília Dantas (MDB). Ambos são considerados de confiança e comandavam até esta semana pastas importantes do ponto de vista político e econômico.

Rio e Recife têm em comum, por parte do PT, a esperança de que uma cobrança mais enfática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa fazer com que os prefeitos mudem de ideia. Mesmo assim, a hipótese é considerada muito remota nas duas capitais.

Em Maceió, o cenário é diferente e não tem como pano de fundo a exoneração de secretários, mas também sinaliza a iminência de uma decisão sobre a vice por parte do prefeito João Henrique Caldas (PL), o JHC. Depois de alimentar a possibilidade de colocar na chapa um nome ligado ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), JHC manifestou a intenção de escolher o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), com quem Lira não é bem relacionado.

Ao mesmo tempo, o prefeito vem considerando uma candidatura ao Senado em 2026, exatamente o cargo cotado por Lira.

Outra capital com as opções de vice agora bem colocadas sobre a mesa é Manaus. O atual prefeito e postulante à reeleição, David Almeida (Avante), enfrenta um cenário eleitoral embaralhado para outubro, mas já é visto, caso reeleito, como possível candidato a governador daqui a dois anos. Por cinco meses, em 2017, ele chefiou o estado depois que governador e vice foram cassados — Almeida era na época o presidente da Assembleia Legislativa.

Depois de romper este ano a aliança que tinha com o governador Wilson Lima (União), que deve apoiar Roberto Cidade (União), Almeida definiu dentro do secretariado as principais opções de vice. São eles o ex-Infraestrutura Renato Júnior e a ex-Saúde Shádia Fraxe, exonerados nesta semana por causa do prazo da Justiça Eleitoral.

Outras capitais

Em todas essas cidades, os vices dos prefeitos na campanha não serão mais os atuais. As trocas mostram a diferença entre formar chapas de composição para um primeiro mandato, quando costuma ser mais comum ceder com facilidade aos outros partidos aliados, e construir reeleições que já vêm acompanhadas de outros planos políticos, como tentar os estados.

Há casos, como o de Paes, que ilustram bem as constantes mudanças programáticas dos partidos brasileiros. O carioca tem a seu lado, desde 2021, o vice Nilton Caldeira, do PL — de quando a sigla era mais uma legenda do Centrão e não tinha filiado o então presidente Jair Bolsonaro. Para este ano, o maior adversário do prefeito é exatamente um quadro bolsonarista do PL: o deputado federal Alexandre Ramagem, que busca apoios de outras sigla.


Fonte: O GLOBO