Porto Velho, Rondônia - Para muitos ativistas do Cerrado, o espaço digital se tornou uma plataforma de defesa do meio ambiente. Postagens nas redes sociais disseminam os anseios pela proteção de um bioma cada vez mais desmatado e, com o impulso de personalidades atentas, pressionam autoridades reivindicando um freio na degradação local.
O geógrafo Evandro Alves, por exemplo, criou a perfil Cerrado em Quadrinhos, que já conta com mais de 32 mil seguidores no Instagram. A ideia surgiu a partir do mestrado do pesquisador, que buscava defender o patrimônio ambiental por meio da divulgação científica e da educação ambiental.
— Os quadrinhos me encantam desde a infância. O meu trabalho é ativista e busco alertar as pessoas da importância central do Cerrado para a nossa sobrevivência — explica Alves.
Por meio das ilustrações, o cartunista promove a educação, desmitificando a ideia de que o Cerrado é um “grande vazio natural” destinado a monoculturas agrícolas. As postagens já tiveram interações de personalidades como o ambientalista Ailton Krenak, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), e a atriz Glória Pires.
— Meu objetivo é reduzir a invisibilidade ambiental do bioma, trazendo ao grande público a verdadeira face do Cerrado, que se expressa na sua riquíssima biodiversidade e nos povos tradicionais que o ocupam. Se não for evitada, a morte do bioma será uma das maiores tragédias do nosso tempo, com impactos sociais e ambientais incalculáveis — avalia o geógrafo.
O desmonte das políticas de proteção ambiental motivou a criação do movimento A Vida no Cerrado que, com mais de dez mil seguidores no Instagram e 60 mil no X (antigo Twitter). Professor de Biologia e voluntário no projeto, Cayo Alcântara explica que a organização usa a comunicação digital como forma de levantar bandeiras.
Equipe da ONG "A Vida no Cerrado" — Foto: Divulgação/A Vida no Cerrado
— A ONG propõe e monitora políticas públicas voltadas ao Cerrado. Observamos um impacto positivo na tentativa de pautar discussões sobre o bioma seja na mídia, na internet ou no Congresso Nacional, por meio das nossas ações.
A equipe nas redes sociais é formada por 12 voluntários. As postagens são derivadas de reuniões de pauta, durante as quais são analisados os contextos político e ecológico para avaliar do que “as pessoas precisam e querem saber” sobre o Cerrado naquele momento.
— Junto com nossos parceiros nas redes, fizemos pressão contra um projeto de lei que previa diminuir o Parque da Chapada dos Veadeiros e, após uma hashtag que levantamos ficar mais de 24 horas nos assuntos mais comentados do X, a proposta foi arquivada — aponta Alcântara.
O entusiasmo de seis universitários deu origem ao movimento ConserVamos Cerrado, com mais de dez mil seguidores no Instagram. Os criadores se inspiraram na frase “conhecer para preservar”, repetida na faculdade de Biologia.
— Ao longo dos anos, percebemos que nossos seguidores ganharam mais conhecimento sobre o bioma, o que pode gerar mudanças de atitude em suas escolhas diárias. Esse é o objetivo das nossas ações de educação ambiental e do trabalho nas redes sociais — explica a voluntária Natália Paula Lopes.
Equipe do projeto "ConserVamos Cerrado" — Foto: Divulgação/ConserVamos Cerrado
O projeto se apoia na beleza do Cerrado para sensibilizar as pessoas.
— A ideia é promover uma mobilização por meio da admiração e do respeito ao bioma — diz Paula.
As causas sociais fazem parte do cotidiano da profissional de relações públicas Bia Schauff na agência de comunicação em que é sócia, em São Paulo. Foi a relação com o namorado, o produtor audiovisual Felipe Triaca, que abriu os olhos da ativista, antes voltada principalmente para a causa feminista, para a necessidade de se ter um olhar atento para as transformações no Cerrado.
— Me aprofundei no conhecimento do bioma e apresentamos para as minhas sócias a proposta do “Sou Cerrado”, um projeto voltado para a proteção do bioma. Montamos um robusto plano de comunicação e trabalhamos junto a um perfil que o Felipe já possuía, com mais de 160 mil seguidores — aponta a publicitária.
Equipe do projeto "Sou Cerrado" — Foto: Divulgação
O projeto iniciado em 2023 constatou, por meio de uma pesquisa (Hibou/novembro de 2023), que aproximadamente 70% dos brasileiros não sabem que o Cerrado é o berço das águas do país. Pensando nisso, a equipe de sete pessoas montou um hub de informações para divulgar ONGs que atuam na causa e realizar uma ponte para as doações.
— Divulgamos postagens feitas por meio de conteúdos desenvolvidos junto a ambientalistas e conseguimos uma séria de parcerias. O projeto foi lançado no São Paulo Fashion Week e já foi compartilhado por nomes da mídia como o dj Alok. Já tivemos cerca de 200 mil cliques no nosso site e desejamos continuar atuando para que a comunicação seja uma forma de dar voz ao Cerrado — diz Bia.
Fonte: O GLOBO
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