Nas lojas, preço chega a dobra devido à maior demanda, mas é possível encontrar aparelhos com valor em conta na internet

Umidificadores têm a função de trazer umidade e melhorar a qualidade do ar — Foto: Freepik

Porto Velho, Rondônia -
Com a qualidade do ar em níveis severamente baixos em diferentes partes do país, a venda de umidificadores de ar explodiu nas últimas semanas. Varejistas e redes de farmácias têm reforçado os estoques, enquanto as vendas dispararam até 665% nos primeiros dias de setembro, quando a situação piorou com o agravamento das queimadas e a falta de chuvas.

O ar ruim dificulta a respiração, aumentando sintomas de doenças respiratórias e cardiovasculares. Assim, a saída tem sido recorrer aos umidificadores, desde modelos de mesa, para uso pessoal, até exemplares mais robustos, adequados para ambientes maiores.

O Magazine Luiza já começou a reposição dos estoques após as vendas dos aparelhos subir mais de 300% na comparação entre os dez primeiros dias de setembro e todo o mês de agosto, principalmente nos estados de Minas Gerais e São Paulo.

Numa loja da rede na Rua Teodoro Sampaio, importante centro comercial da capital paulista, a demanda começou a crescer com a chegada de setembro. O estoque, que era de 20 produtos no começo do mês, zerou nesta quinta-feira. Restou apenas o mostruário.

— Nos três meses anteriores a saída foi zero — comenta o vendedor Igor Souza, que conta aproximadamente com quatro clientes interessados ao dia.



O centro de distribuição do Magalu em Guarulhos: varejista iniciou operação de reposição dos estoques de umidificadores — Foto: Divulgação/Germano Lüders

Os comerciantes da Casa Santa Therezinha, de produtos para casa e organização, já venderam todos os dez aparelhos que estavam no estoque ontem. Dos cinco que apareciam nas prateleiras, restaram três. As prateleiras da Preçolândia também estão sem umidificadores. Segundo o gerente Diego de Oliveira, a procura pelo aparelho está "gigante".

— Estamos sem estoque. Atendi nove clientes na loja e três clientes no telefone. Eles comentam que subiu bastante o preço. Alguns já até compraram pela internet, mas não querem esperar chegar.

A consumidora Helena Gouveia, de 64 anos, saiu de casa apenas para comprar o umidificador e saiu da loja de mãos vazias:

— Eu fumo e, como tenho uma gatinha, não deixo a janela fechada. Estou procurando pelo que estamos vendo, das queimadas — conta a idosa, que tem enfisema pulmonar e andava pelas ruas usando máscaras.

A consumidora Helena Gouveia, de 64 anos — Foto: Ana Flavia Pilar / Agência O Globo

Preço sobe na loja e cai na internet


Numa loja das Casas Bahia, o vendedor Marco Paulino, disse ter atendido quatro consumidores interessados nesses aparelhos ontem. Chegam aproximadamente trinta pessoas por dia e a demanda aquecida acabou jogando os preços para cima:

— Antigamente custava R$ 130. Agora, já está custando R$ 250. Nem tá chegando mais aparelho.

Já pela internet, apesar da alta procura, os preços médios tiveram uma queda de 26,2% entre o fim de agosto e início de setembro. Segundo dados do buscador de preços Buscapé, aparelhos umidificadores saem por, em média, R$ 500. Em algumas lojas online, porém, é possível encontrar modelos de R$ 131,99 até R$ 2,5 mil, para ambientes maiores.

No Mercado Livre, as buscas pelo produto saltaram 485% nos dez primeiros dias deste mês, em comparação ao mesmo período do ano passado. Já na Shopee a procura aumentou 70% entre 25 de agosto e 8 de setembro, frente aos 15 dias anteriores. No marketplace, São Paulo e Minas também lideram as buscas.

Na farmácias, a busca também disparou. A rede DPSP, das drogarias Pacheco e São Paulo, contabiliza que o volume de umidificadores vendidos em setembro, até o último dia 9, é equivalente a todo o mês de agosto passado, e supera em 50% as vendas de agosto de 2023.

Gargalo na importação

Na Raia Drogasil, a alta foi ainda maior, de 665% nos primeiros de dias deste mês, também em relação ao mesmo período de 2023. Segundo a companhia, os estoques baixaram bastante, e já há faltas pontuais em algumas regiões, principalmente no Centro-Oeste.

"Vale lembrar que os umidificadores são, em sua maioria, importados, o que dificulta o tempo de abastecimento em caso de alta demanda repentina", informou em nota a RD Saúde.

Coordenador do Centro de Excelência em Varejo da FGV EAESP, Maurício Morgado analisa que a pressão de extremos climáticos no consumo – com ondas de calor impulsionando a venda de ar condicionado, por exemplo –, forçam o varejo a mudar a forma de comprar da indústria, a partir da demanda dos consumidores:

– Estamos vivendo situações climáticas e o varejo ainda não está preparado. Vai precisar adaptar os esquemas de compra para repor mais rápido os estoques. Mas tudo depende da indústria. O gargalo fica na importação.

Névoa de poluição cobre a cidade de São Paulo, que tem pior qualidade do ar do mundo — Foto: Edilson Dantas

Emerson Wojcik, diretor comercial da linha branca da Britânia, disse que a marca espera um aumento nas vendas e está se preparando para um verão com temperaturas elevadas. A demanda da empresa está concentrada nos estados mais quentes, do Sudeste e Centro-Oeste do país. Com secas, incêndios e calor intenso, o umidificador se tornou "um grande aliado" dos consumidores, que buscam conforto e bem-estar.

As encomendas de umidificadores na Elgin cresceram entre 10% e 20% nos últimos meses. Como são produtos importados, não houve mudanças nos turnos das fábricas da marca, mas a demanda nos fornecedores internacionais aumentou devido às alterações climáticas, que afetam não apenas o Brasil, mas diversos países.

Pior para os alérgicos

A empresa disse que houve impacto nos preços, sem dizer o quanto, sobretudo por conta do câmbio e do custo do frete internacional.

— A maior demanda da Elgin está nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde estão os estados que enfrentam os índices mais baixos de umidade do ar no momento, o que torna a respiração mais difícil, além de levar a sintomas como olhos irritados, tosse seca e chiado no peito — diz Anderson Bruno, Diretor Comercial Ar-condicionado e Eletroportáteis.

Maria Cândida Rizzo, membro do Departamento Científico de Rinite da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), explica que a seca provoca piora na qualidade do ar, quadro agravado também pelas queimadas.

Essa má qualidade do ar indica que existem componentes irritantes em suspensão que, ao serem inalados, promovem um processo inflamatório nas vias aéreas Quem já vive com rinite e asma pode sentir esses efeitos ainda mais intensamente.

— Em dormitórios, onde passamos mais de oito horas, o ideal é que a umidade esteja acima de 50%, ou não abaixo de 50%. E para isso, a gente pode realmente usar umidificadores nesses locais, ou água e toalhas úmidas no ambiente.


Fonte: O GLOBO