Liderança Yanomami celebra formação de três indígenas e reforça luta por direitos e preservação cultural

Em um momento histórico para a educação indígena no Brasil, três Yanomami defenderam suas dissertações de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A conquista foi celebrada pelo xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa, que destacou a importância da formação acadêmica para o fortalecimento de seu povo.

“Eles abriram espaço para outros Yanomami também entrarem. Estou muito contente com meus parentes, meus primos que tiveram coragem”, afirmou Kopenawa durante o evento “Davi Kopenawa: palavras de um xamã Yanomami”, realizado na UFAM nesta terça-feira (22).
Um Marco na Educação Indígena

Os novos mestres são:

Odorico Xamatari Hayata Yanomami


Edinho Yanomami Yarimina Xamatari


Modesto Yanomami Xamatari Amaroko

Todos são professores em Xaponos (casas coletivas Yanomami) no Rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro (AM). Suas pesquisas abordaram temas como música tradicional, rituais xamânicos e o ensino da língua materna às crianças, reforçando a importância da ancestralidade.

Odorico, que utilizou a autoetnografia em seu estudo, explicou sua motivação:
“Por que quero ser Mestre? Porque eu, no meu corpo, no meu sentido, no meu sonho, quero ser tal… Como os napë [homem branco] fala que o Yanomami não sabe escrever, não sabe falar bem português. Eu entendo a crítica do napë. Por causa disso que sou Mestre.”

Já Modesto destacou o valor comunitário de sua formação:
“É importante para mim, porque vou ser preparado para a comunidade. Não é para mim, mas sim para ajudar [outros indígenas].”
Luta Contra Garimpo e Pela Preservação Cultural

Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e doutor Honoris Causa, alertou sobre os desafios enfrentados pelo povo Yanomami, como o avanço do garimpo ilegal e o desmatamento. Ele ressaltou a necessidade de preservar a língua e os costumes tradicionais, mesmo com a inserção no ensino superior.

“Temos que aprender mais a falar português, mas não podemos esquecer nossa própria língua Yanomami. Nossa língua é nossa arma. [...] Agora é nossa vez de mostrar nossa força, sabedoria e inteligência.”
UFAM e o Futuro da Educação Indígena

A diretora do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), Iraildes Caldas Torres, destacou o pioneirismo da UFAM:
“Fazer uma defesa genuinamente no contexto indígena é um desafio. É uma forma de dizer que nós, como povos indígenas da Amazônia, temos o direito de pensarmos diferentes.”

O coordenador do PPGSCA, Caio Souto, anunciou a expansão do programa para São Gabriel da Cachoeira, ampliando o acesso à pós-graduação para mais indígenas.

Kopenawa finalizou com um apelo por mais escolas em territórios Yanomami:
“Tem dinheiro para construir escolas para nossos filhos aprenderem a escrever, matemática, trabalhar em Saúde, a ser professor e ensinar os próprios parentes. Esta é a minha luta e vou continuar.”

A conquista dos três mestres Yanomami não só abre caminho para novos acadêmicos indígenas, mas também fortalece a resistência cultural e política de um povo que segue lutando por seus direitos e pelo futuro da Amazônia.