Palestra reuniu servidores, estudantes e sociedade civil para refletir sobre como a educação de meninos pode transformar o futuro das relações de gênero

 O Ministério Público de Rondônia (MPRO) realizou nesta quinta-feira (4/12), em Porto Velho, a palestra "Meninos: sonhando os homens do futuro", como parte da programação da campanha "21 Dias de Ativismo". Promovido pela Comissão de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade (CEGRD), o evento debateu como a construção cultural das masculinidades influencia os índices de violência contra meninas e mulheres e o que pode ser feito para transformar esse cenário.

A atividade contou com a participação remota do Procurador-Geral de Justiça, Alexandre Jésus de Queiroz Santiago, e, presencialmente, da Ouvidora do MPRO, Procuradora de Justiça Andréa Luciana Damacena Ferreira Engel, dos Promotores de Justiça Tiago Lopes Nunes (Secretário-Geral) e Julian Inthom Farago (Chefe de Gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça), que representou a presidente da CEGRD, Promotora de Justiça Flávia Barbosa Shimizu Mazzini. Também compuseram a mesa de honra a juíza Mírian Souza e a coordenadora da Rede Lilás, advogada Francimar Francelino.

Com a presença de servidores do MPRO, estudantes e membros da sociedade em geral, a palestra foi conduzida por José Ricardo Ferreira de Oliveira, representante do Instituto de Pesquisa Papo de Homem (PDH). O especialista abordou o modelo hegemônico de masculinidade no Brasil e seus impactos nas relações de gênero e nas estruturas de desigualdade que marcam o país.

O palestrante discorreu sobre o padrão cultural que molda o comportamento dos homens desde a infância, pontuando discursos que alimentam a expectativa social sobre a identidade masculina, como ser forte, provedor e não demonstrar emoções ou fragilidades. "Nós aprendemos, desde muito cedo, enquanto homens, que precisamos ser dominantes e agressivos. Atender a esse modelo é como estar dentro de uma caixa, uma prisão sem grades, e isso tem gerado um perfil que compromete a saúde mental", afirmou.

José Ricardo Ferreira apresentou ainda pesquisas realizadas pelo Instituto PDH com homens adultos e adolescentes na faixa etária de 13 a 17 anos, nos anos de 2019 e 2023, respectivamente. Os estudos revelam a presença de distúrbios emocionais em ambos os grupos, associados à imposição do modelo hegemônico de masculinidade. Em 2019, seis em cada dez homens afirmaram apresentar questões emocionais no decorrer da vida. Em 2023, entre os adolescentes, esse número subiu para sete em cada dez. O padrão de resultados, conforme explicou o palestrante, apresentou similaridades em relação a temas como solidão, falta de referência e dores emocionais, evidenciando o comprometimento da saúde psicológica de boa parte dos entrevistados.

Masculinidades

Ao abordar o preconceito de gênero, José Ricardo Ferreira chamou atenção para comportamentos machistas e formas de violência nem sempre reconhecidas pelos próprios autores, mas que, mesmo sem intencionalidade explícita, produzem impactos profundos na vida das mulheres.

Nesse contexto, apresentou os pilares do Projeto Meninos, desenvolvido pelo Instituto PDH, cujo propósito é ampliar a compreensão sobre as masculinidades. "Queremos disseminar a ideia de que existem diversas formas de ser homem, e não apenas um padrão único. O que não pode existir é a masculinidade violenta", afirmou.

Enfrentamento

Na abertura do evento, o Procurador-Geral de Justiça, Alexandre Jésus de Queiroz Santiago, destacou a importância da palestra e das ações realizadas ao longo da campanha, voltadas a promover informação, consciência e mudança de posturas. "É de todos nós a responsabilidade por essa luta. Pensando no futuro, devemos olhar para os meninos para que a gente possa, lá na frente, colher resultados melhores", afirmou.

Na sequência, o Promotor de Justiça Julian Farago, representando a presidente da CEGRD, reforçou o compromisso institucional com a temática. "Em nome da Comissão, reafirmo o apoio do Ministério Público e seu posicionamento firme diante da violência contra meninas e mulheres, um desafio urgente, permanente e que exige planejamento. Cada agressão interrompe futuros, reduz oportunidades e impede que vidas exerçam plenamente sua liberdade", destacou.

A Procuradora de Justiça Andréa Damacena ressaltou a necessidade de permanência e articulação no combate ao problema. "Quando a rede se mobiliza de forma alinhada, a proteção se torna efetiva", afirmou, referindo-se à atuação conjunta do Ministério Público, do Judiciário, da assistência social e da sociedade civil.

O Promotor de Justiça Tiago Lopes Nunes, Secretário-Geral do MPRO, também endossou a relevância da temática e a importância da atuação interinstitucional para reverter as estatísticas da violência de gênero. "Nenhum problema complexo pode ser resolvido de modo simples. Isso é um fato. Portanto, não será fácil e nem rápido, mas podemos vencer essa batalha com educação, conscientização e orientação", ressaltou.

21 Dias de Ativismo

A campanha "21 Dias de Ativismo" é uma mobilização nacional que tem como objetivo conscientizar a sociedade e combater a violência contra mulheres e meninas, além do racismo. A iniciativa articula ações em todo o país e busca fortalecer políticas públicas, dar visibilidade à causa e engajar a sociedade na construção de um futuro com mais direitos e segurança para as mulheres.